Costumes


Entre cada gole de café ela dava uma espiada no jornal de domingo e no facebook dele. O horário era de almoço (aliás, já tinha passado disso) mas com o velho pijama furado ela apreciava o café como se ainda fosse 07 hrs. Com uma calma estampada nos olhos totalmente diferente com o que sentia por dentro. Por dentro tudo revirava como se ela estivesse numa montanha-russa após o looping. Enquanto o café alcançava cada parte do seu corpo e aquecia contra o frio, ela lembrava de quando não precisava do café para se aquecer. Lembrava do último inverno. Do aconchego dos braços dele. Na verdade ela não lembrava de ter sentido frio no último inverno que passara com ele. Mas tudo tinha mudado.

Folheou o jornal desinteressada. Foi ao caderno de esportes, procurar notícias sobre o time dele. Porquê mesmo? Costume. Devia ser. O time perdeu. E ela não conseguiu evitar ficar triste por isso. Sabia o quanto era importante pra ele... Mas porque ainda estava se importando com ele depois de tudo? Costume.

Costume era como ela respondia metade das perguntas que faziam sobre ele. Porque ainda tem a foto dele na sua penteadeira? Costume. Porque no seu celular o telefone dele estava gravado como amor? Costume. Porque ela chorava todas as noites antes de dormir pensando nele? Costume.

Ela só não contava para as pessoas que era costume de amar. Costume de orar todos os dias para que ele fique bem. Costume de desejar, acima de tudo, que ele alcance o sucesso que tanto busca. Costume de fingir que tudo aquilo foi um pesadelo mas que já já ela vai acordar no colo dele. Costume de alimentar seus sonhos ao lado dele. A casa no sítio, as crianças, o cachorro, o final de semana na praia... Boba.

Ela só não imaginava que ele também estava sofrendo de costumes. Costume de ser orgulhoso. Costume de viver de passado. Costume de não voltar atrás nas decisões. Costume de temer uma segunda chance...

Enquanto ela atualizava a página dele no facebook sem visualizar nenhuma atualização reelevante, ele lia seu twitter. Enquanto ela saboreava o café lembrando do último inverno, ele viajava pelas lembranças do primeiro verão deles, na praia. Tão novos, ingênuos e crentes no amor. E por alguns instantes ele quis deixar todos os seus costumes de lado e telefonar. E quando estava com o telefone na mão, o número dela na tela (junto daquela foto boba mandando beijo) chegou uma nova mensagem. Da outra. E ele lembrou que também tinha o costume de substituir as pessoas rápido demais.


Esse texto também foi postado aqui ó: >>>> Sempre Quis Ter um Assim 

2 comentários:

  1. Nossa amiga...amei esse texto. Tô sem palavras =/

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  2. Que lindo! Muito bem escrito, Thu. Quase uma tradução dos sentimentos.
    Desi.

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