Um teto para meu país


Há alguns post atrás (talvez muitos) comentei sobre minha vontade de fazer um trabalho voluntário. Acontece que o tempo foi passando, afazeres foram surgindo, e eu ainda não tinha me mexido. Foi então que surgiu o convite pelo pessoal da Universidade de participar de um projeto que se chama: Um teto para meu país. O custo era ridículo: R$ 30,00 pra se inscrever, comer e dormir por 2 dias. Em troca, trabalhar numa comunidade carente construindo uma casa para uma família que viva em condição de extrema miséria.


Me inscrevi e fui alegre e sorridente. Eu e mais algumas pessoas da Universidade. Fiquei sabendo que minha comunidade se chamava Futuro Melhor, e que eu seria da equipe de logística. Achei bom, pois como nunca tive experiência com construções (mesmo de madeira...) no fundo eu estava com medo de atrapalhar o serviço por ser uma leiga. Meu trabalho(logística) seria carregar o material para construção das casas (pilotis, painéis de madeira, vigas, telhas...) de um local central, até cada uma das casinhas. "Tranquilo" pensei.

Acontece que a sujeita aqui sofre pra carregar pote de água para os cachorros. Imagina um painel de 200 kg! Então né...

Chegamos na sexta a tarde. Fomos divididos em váaaarias equipes, cada uma iria para uma comunidade. Afinal, estávamos em mais de 1000 voluntários!  Cada equipe se direcionou a uma escola em sua comunidade, onde ficamos alojados. 


Sábado que o trabalho começou. Acordamos cedo (06:00 h) e seguimos a pé até a região da comunidade que trabalharíamos. Foi então que a ficha começou a cair. 

Aqui em Curitiba, existem muitas comunidades carentes, como em todas as grandes cidades. Entretanto, nunca vi uma com o tamanho dessa que trabalhei. Nunca vi tanta gente em condições tão precárias como lá. Muita gente me perguntou: "-Nossa, mas porque esse projeto não vem pra cá, pra Curitiba? Também tem gente que precisa...". Não vou negar que há gente que precise, mas lá a situação era gritante. É desesperador, dá vontade de ficar lá, construindo casinhas e mais casinhas pra ver se consegue 'melhorar' um pouquinho que seja a vida da comunidade. Vi famílias vivendo em casas de 4 m², em cima de córrego. Isso é desumano.

A equipe da logística não 'se apega' a nenhuma família. Passamos os dois dias carregando materiais, pesadíssimos, de um lado para o outro. Indo e voltando, algumas muitas vezes (porque infelizmente a logística não tinha muita lógica.. e a coordenadora era um pouco perdida..). Conhecemos praticamente todas as famílias que seriam beneficiadas. Andamos por toda a comunidade, e vimos como é a realidade daquelas pessoas. 


Ao final do primeiro dia, a cada viga que eu pegava pensava: 'Não aguento mais. Essa será a última. Depois disso preciso sentar pra descansar!', mas quando chegava ao final do percurso, com ferpas nos dedos e ombros latejando, descobria que havia mais algum painel pra levar para o outro lado. Respirava fundo e mentalizava:"Eu consigo. Eu preciso conseguir.". E lá íamos todos terminar o trabalho. Quando voltamos para o alojamento, tivemos que conviver com um pequeno drama: ficar sem tomar banho. Estávamos alojados numa escola, sem chuveiros. Sem contar que, mesmo que existissem chuveiros, 1000 pessoas tomando banho numa comunidade carente seria uma atitude no mínimo irresponsável né? Então, sacamos nossos lencinhos umedecidos e disfarçamos a catinga com poderosos desodorantes. Sabe que funcionou? Acho que o cansaço era tanto também que nem deu tempo de ficarmos preocupados com isso. 

Domingo pela manhã as dores estavam em todos os lugares do corpo. Dos ombros às panturrilhas, tudo doía e latejava. Descobri que tinha músculos que eu nem sabia que existiam. Quer saber o que se passava pela minha cabeça? "Thuany, porque é que você foi se meter nisso? Porque não ficou no aconchego de sua cidade?? Porque não foi visitar uma creche, um hospital um asilo? Precisava vir tão longe, pagar, fazer um serviço pesado que você nunca fez, só pra fazer o bem?"


E lá fui eu com meu coraçãozinho emburrado para o segundo dia de trabalho. E apesar de relativamente mais leve, foi muito mais cansativo. Primeiro, porque estávamos com o cansaço do dia anterior acumulado, segundo, porque foi um trabalho que me deixou bastante tensa. Tivemos que carregar as telhas que eram facas gigantes, por um trecho de quase um quilômetro, passando por crianças (muitas crianças, meu Deus, como tinha crianças) correndo despreocupadas, carros desgovernados, rachas de motos, ônibus sem freios... e a todo momento achando que uma criança passaria correndo pela telha e aquilo viraria um acidente terrível. Entramos em uma viela onde mal passava uma pessoa, fazendo caminhos praticamente impossíveis de serem realizados se não fosse o compromisso que havíamos assumido. 

Vi que naquele lugar, a carência é explicita. Os olhos das crianças, das mães, dos animais imploram por um carinho, um gesto de amor. A cada 'Bom Dia' ou a cada sorriso que distribuíamos, era notável a diferença que aquilo faria na vida da pessoa. As crianças e os bichinhos brigavam pela nossa atenção. Acho que eles estavam conformados por estarem esquecidos pela sociedade. E quando percebem que existe sim gente que se preocupa com eles, a alegria transborda.

O objetivo do projeto não é construir casas e presentear pessoas carentes. Vai muito além disso. Até porque, as famílias pagam (se não me engano é R$ 150,00) pela casa. A ong tem o objetivo de dar um pontapé inicial para melhorar a vida de pessoas que vivem em condições precárias. A casa, é o primeiro passo. Nós vamos lá, construímos a casa, mostramos que é possível sim melhorar de vida. Que eles tem condições de lutar por uma vida melhor, mais digna. Existe uma segunda fase do  projeto, que consiste nos incentivos ao estudo, cursos..para que as pessoas tenham condições concretas para crescer na vida. Quem quiser conhecer e participar do projeto, acesse o site! Caso não possa ajudar indo até as comunidades nas construções, é possível ajudar de outras maneiras. O importante é ter consciência que o nosso país precisa e muito de pessoas dispostas a doar um pouquinho de seu tempo para ajudar o próximo.

Se na manhã de domingo eu estava praticamente arrependida de ter me candidatado ao trabalho voluntário, nas manhã de segunda o que pensei foi: "Obrigada Deus pela oportunidade de ter participado desse trabalho e ter mudado, um pouquinho que seja, a vida de outras famílias". 

Foi com certeza a experiência mais linda que já tive, e que desejo com certeza viver outras vezes! 

E a cada vez, carregar mais pessoas comigo! ;)

Um beijo enorme!




11 comentários:

  1. Eu tbm tenho muita vontade de fazer trabalho volutário, mas a preguiça e o comodismo me impedem. Vc foi muito corajosa e encarar um trabalho desse, parabéns flor. Acredite, não foi só aquelas famílias que se beneficiaram vc tbm. Ganhou experiência, entrou em contato com a realidade do país e superou limites. Parabéns

    http://viverpensaralto.blogspot.com.br/

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  2. "Acontece que a sujeita aqui sofre pra carregar pote de água para os cachorros. Imagina um painel de 200 kg! Então né..." Eu ri dessa parte.. mas quando continuei lendo não conseguir segurar as lágrimas. É muito nobre o que você fez, Thuany. A gente vê pela TV e pelos jornais tudo o que acontece mas quando a gente tá perto é bem diferente. A lição que a gente tem no final é sempre bem maior que as dores corporais. Adorei o post!
    Beijinhos
    http://bolasdemeia.blogspot.com.br/

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  3. Putz! Que legal!!
    Tenho muita vontade de serviço voluntário, mas em parte preguiça e em parte falta de tempo... nunca consigo!
    É bem 'Dear John' esse projeto. Adooooooorei! *-*

    =*

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  4. Sei bem como é isto. Participei de algo parecido, só que foi um projeto com crianças em um bairro pobre da minha cidade. Ia todos os sabádos a tarde contar histórias e passava desenhos pra eles pintar. Era tanta criança. E como gostava de estar lá, só de fazer brotar um sorriso no rosto daquelas crianças, fazia toda a diferença. Percebi o quanto ela eram carentes, mas não só de bem materiais, ou de comida, mas sim de atenção e carinho. E tentava ao máximo passar isso a elas. Sinto muita saudade. Semana que vem estarei viajando para minha cidade, e sábado me chamaram pra fazer uma surpresinha lá pra elas. E você não sabe a alegria que senti, quanto soube o quanto eles sentem minha falta. Na minha opinião todos devemos dedicar um tempinho da nossa vida a ajudar os outros, pode até ser algo pequeno, mas no vim faz toda a diferença. Não só nas pessoas que iremos ajudar, mas também em nós. Aprendemos tanta coisa, né? é uma experiencia incrivel!

    aah, também tenho aula de Desenho arquitetônico, Já fiz algumas plantas baixas. é uma das minhas aulas preferidas. Mas a que eu mais gostei foi a de Desenho artístico, você sabe porque né? kkk

    Beijooos ♥

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  5. Sobre seu comentário no Alices, estou ansiosa por sua carta!
    Não tenho tido muito tempo para ir ao Correios esses dias, então é provavel que sua carta chegue primeiro. Se bem que, com a eficiência dos Correios... Nunca se sabe!

    =*

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  6. Eu tenho muita vontade de ajudar as pessoas. Eu fico me perguntando, porque não sou rica?!! Eu gostaria muito de ter dinheiro, para pode ajudar esse e aquele. Para poder arrancar sorrisos sinceros. Para poder presentear, auxiliar, dar o que comer, o que vestir, um lugar para morar, ajudar mesmo.
    Tudo que eu tenho em mente, tudo que eu desejo fazer pelos outros, é muito para uma pessoa só. Tenho muita vontade de conhecer pessoas com essa mesma sede que eu tenho. Essa vontade de ajudar!
    Enquanto eu lia o post, ficava pensando: "Porque eu não estou ali?"
    Morri de vontade de estar ali, ajudando a construir, carregar materiais. Para mim, não importaria o cansaço, acho que a coisa mais linda seria ver o sorriso de alegria daquelas pessoas. E a minha satisfação em conseguir ajudar, isso me deixaria imensamente feliz!

    Muito nobre a atitude de vocês. Meus parabéns! Fico feliz em saber que existem muitas pessoas nesse mundo que se preocupam em ajudar uns aos outros.

    Beijos, moça:*

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    1. Esqueci de acrescentar uma coisinha. rs
      As pequenas atitudes contam muito. É como você comentou sobre um simples "bom dia". Ás vezes, nem é preciso muito. Muitas vezes, um sorriso sincero basta. É uma forma de lhes mostrar que não estão sozinhos. E que há quem se preocupe com eles, de verdade.
      Sei que há muitas maneiras de ajudar, todos nós deveríamos investir nisso. Em projetos, em pequenas atitudes que ajudariam esse mundo se tornar cada dia melhor.

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  7. Oi Thuany,

    Adorei sua iniciativa!
    Acho que o Brasil precisa de mais gente como vc ;)
    Eu sei que deve ter sido mto dificil, pois apesar da nossa boa vontade, o desconhecido assusta! e as dificuldades as vezes insistem em fazer a gente desistir!
    Com certeza Deus te ajudou nisso! e pode ter certeza que sua recompensa sera maior! tudo que a gente faz de coracao, eh uma semente que a gente planta pra colher frutos MTO bons la na frente ;)

    Beijos

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  8. Oiiii, nossa que atitude linda, dedicar um tempo ao próximo.
    Parabéns mesmo linda!
    beijo beijo

    http://lladodedentro.blogspot.com.br/

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  9. Que post lindo e o que é melhor: que ATITUDE LINDA *.*
    Imagino que tenha sido difícil, mas com certeza o resultado final compensa qualquer dor física, né?
    Parabéns pelo grandioso trabalho. Beijão <33

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  10. oi Thu, recebi um selinho e estou te repassando!
    o link é: http://semprequisterumassim.blogspot.com.br/2012/04/i-like-selinhos.html


    beijos, Dé!
    http://semprequisterumassim.blogspot.com.br

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