Forever alone até a mamãe voltar

Nessas férias pela primeira vez na vida meus pais me deixaram pra trás. Tive férias apenas na semana do Natal e Ano Novo e logo em seguida voltei pra vida de escraviária estagiária, enquanto eles seguiram curtindo suas férias intercalando os banhos de mar e chuva na praia.

Se isso tivesse acontecido há 4 anos atrás quando eu ainda era novinha (ok, ainda sou nova, 22 anos e nenhuma ruga, veja só!), mas eu quis dizer, quando estava no auge dos meus 18 anos, ficar sozinha em casa seria um motivo para festas e comemorações. Aquele papo todo que a gente tem de quando faz 18 anos: agora sou livre, vou beber todas, vou sair de casa na sexta e voltar na segunda com uma tatuagem de dragão e 3 piercing, e blá blá blá. (Até sua mãe falar "enquanto você morar nessa casa quem manda sou eu e vá lavar a louça e arrumar seu quarto" e você abaixar a cabeça e obedecer, afinal ainda é ela quem paga sua meia-entrada no cinema).

Acontece que a fase dos 18 (in)felizmente passou e ficar sozinha nem sempre é tão bom assim. Na verdade ficar sozinha só é bom quando se trata de uma opção sua.

Outra situação foi o que aconteceu na minha vida amorosa. Fiquei sozinha por opção várias vezes. Toda vez que enjoava da cara do meu namorado (hoje meu ex) ou de suas ordens, eu ia lá e opa...preciso de um tempo. Esses tempos eram fases maravilhosas. Eu podia conversar com minhas amigas sem ter que relatar todo o conteúdo da conversa depois e tinha noites tranquilas de sono sem ficar imaginando com quem ele estava tendo fantasias. Até que uma vez eu quis voltar e o bonito se fez de difícil. Aí chegou aquele momento que eu não tive mais opção. Eu estava sozinha por rejeição. Eu queria ficar e ele não. Essa solidão é uma das piores.

Quando o ficar sozinha é uma escolha, a gente está disposta a cozinhar, lavar a roupa e assistir um filminho de noite enrolada no cobertor apenas com um cachorro do lado. E faz isso com prazer. Sorrindo, eu diria até. A solidão, tanto no sentido físico (morar sozinha) quanto no sentido emocional (estar solteira) é saudável. É bom ter a casa só pra você e poder ficar o dia todo só de calcinha, comer o que quiser a hora que quiser, optar por uma pizza na segunda-feira e um cachorro quente na terça. É bom poder sair beber com as amigas na sexta, ir no cinema sozinha assistir aquele romance açucarado que homem não tem paciência, e tirar o domingo pra testar sua coleção de esmaltes cor-de-rosa. Eu diria não só saudável, mas necessário. Todo mundo precisa pelo menos de alguns momentos sozinha.

Fiquei sem minha família e apenas com meus cachorros mais de metade das minhas férias. Sem companhia pra jantar, criticar a novela ou contar do meu dia. Sem gente na casa pra fazer algazarra na hora que quero dormir ou pra ajudar na louça. E eu não queria. O desfecho desse abandono foi eu ligando no meio da madrugada para meu namorado (o atual) chorando porque estava com medo de ficar sozinha. Exatamente: 22 anos na cara e medo do escuro.

Não sei bem o que queria dizer com essa crônica. Talvez a mensagem seja: fique sozinha de vez em quando, mas tenha sempre por perto um telefone emergência (disk-namorado, disk-peguete-fofo, disk-bff) caso tenha um ataque de medo de escuro no meio da madrugada.

Ou, talvez seja: se tiver que acabar, que seja você a dar o fora.


Ah, pra quem ficou curioso, o desfecho da história da minha vida amorosa foi muito bem descrito pela Martha Medeiros, em sua crônica As esquisitices do amor: "não antecipe o término do que ainda não acabou, espere a relação chegar até a rapa, e aí sim".